sábado, 16 de julho de 2016

Entrelinhas e Reticências

Escapo
na aterrissagem do olho sobre a nuca
que se insinua feito palavra lânguida
eu penso, me chupa
me lambe, lambe a lambida minha
encharca comigo
o ouvido
e esses verbos absurdos de prazer
que dançam e dançam
nus sobre a pele aquecida
abre a boca
pra que eu penetre
com poesia fervida
que me escorre pelo pescoço
feito soluço
ritmado
um ah! ah!
sorria agora, mostre os dentes
se abra, me abro
e assista
eles tocam-se
despretensiosamente coléricos
com mil tentáculos
escapo
o olho entorpecido
se fecha, se abre
umedecido
segue o fluxo dos risos
estou fora de mim
e finjo controlar o magma
transbordando
entre as coxas
entrelinhas
entre no meio das coxas
intumescido
pulsando reticências. . .

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Anoiteço

Algumas vezes eu fico parada, quase imóvel, antes de dormir e por um instante consigo ouvir o acúmulo dos pequenos barulhos que ressoam e reverberam com o todo, com o resto das coisas, um barulho somado a outro num movimento circular. Fico então atenta e não consigo decifrar um som que se destaque e me concentrar nele, não consigo, ouço o acúmulo do tempo e das distâncias, fico atenta a esse som indecifrável, o chamo de 'o som do universo enquanto se movimenta', mas talvez, bem talvez, seja só o barulho dos meus pensamentos trafegando sem descanso enquanto tento acalmar cada célula do meu corpo-hospedeiro. Talvez eu abrigue em meus ouvidos, nesses minutos onde a madrugada se dissipa, o peso de cada gota de água enchendo o copo de alguém que ainda está com sede a essa hora, ou do atrito entre o asfalto e o os pneus de quem ainda está voltando pra casa ou do lençol fino roçando nos pés de quem está dormindo no chão logo ali na esquina, talvez também seja o sussurro baixinho das peles nuas que se encostam uma sobre a outra, essa melodia do cotidiano que ecoa nas paredes do meu quarto e me fazem ter a estranha sensação de que não estou sozinha, apesar de. Então acordo desnorteada com a sensação de que um outro corpo me habita ou uma outra vida, me pergunto se sou quem sou e não obtenho resposta, ainda quanto estou prestes a mover os cílios e deixar a luz penetrar na pupila, me pergunto se estou morta, se é assim viver, esse acúmulo...esse silêncio que não atinjo, por deus, ainda bem! Esse silêncio deve ser a morte. Me amanheço. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Pupila

uma agudez me atravessa os olhos
entorpecem
e me sinto inflamada, embriagada
tão penetrante
como quando me penetras com palavras doces
e falsas
e com teu verbo no imperativo
cerro os dentes, travando um sorriso
que me escorre pelo corpo
lânguida e desmaio
em abraços gelados
que me aquecem por debaixo da derme
fecho os olhos
eles queimam, como eu
quando te sinto me observar imóvel e colérico
se estou prestes a gozar.