terça-feira, 14 de junho de 2016

Meu nome não é Maria


Meu clitóris enxerga toda a cegueira de vocês. Nos devaneios múltiplos pedem que eu grite enquanto gozo, querem ser avisados que seu ego vai morrer intacto, emudeço. Gozo silencioso. Descobri que poderia gozar aos cinco anos e me fizeram sentir nojo, agora pedem que eu abra as pernas sem pudor pro amor. Como, se eu aprendi a dizer que não gostava tanto assim? Como, se me tocar sempre foi um ato de condenação? Como poderia extrapolar as fronteiras da minha imaginação se os limites que me deram possuem arames farpados, muros mais altos que eu e soldados espreitando minha nudez, prontos pra atirar quando minha vulgaridade não os entretém. A boa moça da cidade não goza. A linda moça da cidade não caga. Tão fora da realidade que deve ser por isso que eu sempre penso estar num sonho, num filme, num livro. Padronizaram o sexo e todo desvio é perverso, o clitóris é banido. E há um exército de indícios escondidos, de arquivos queimados, de orgasmos culpados, de desencontros rítmicos. Foi impedido aos homens todo ato de elevada erotização por negar o feminino.



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